BLOG PARA DIVULGAÇÃO DA LITERATURA RUSSA AOS FALANTES DE LÍNGUA PORTUGUESA.

Post Page Advertisement [Top]

Pra você que nunca leu, nem vai ler guerra e paz (e pensar que eu quase terminei... faltavam 100 páginas de 1200...), aqui vai um motivo para mudar de ideia... ou não.

“Diante de certos fenômenos históricos, desnudados de sentido, ou ante
s, cujo sentido nos escapa, o recurso ao fatalismo é indispensável. Com efeito, quanto mais nossa razão se esforça por explicá-los, tanto mais nos parecem dezarrazoados, incompreensíveis. Todo homem vive para si mesmo, utiliza sua liberdade para atingir fins particulares, sente em todo o seu ser que pode ou não realizar tal ou qual ato; mas, desde que age, seu ato realizado em tal momento da duração torna-se irrevogável e pertence doravante à História, onde ele não mais parece livre, mas regido pela fatalidade.
A vida humana tem duas faces. Há de uma parte a vida individual, que é tanto mais livre quanto seus interesses são mais abstratos; há por outra parte a vida elementar, gregária, em que o homem deve inevitavelmente submeter-se às leis que lhe são prescritas.
O homem vive conscientemente por si mesmo, mas participa inconscientemente na prossecução dos fins históricos da humanidade inteira. O ato realizado é irrevogável e, por sua concordância com milhões de outros atos realizados por outrem, assume um valor histórico. Quanto mais alto está colocado o homem na escala social, mais importantes são os personagens com os quais entretém relações, maior também é seu poder sobre o próximo, mais cada um de seus atos se reveste de um caráter evidente de necessidade, de predestinação.
“O coração dos reis está na mão de Deus”*.
O rei é escravo da História.
A História, isto é, a vida inconsciente, geral, gregária da humanidade, faz cada minuto da vida dos reis servir à realização de seus desígnios.”

Guerra e Paz, livro III, 1ª parte. Volume II, pg. 10. Fragmento nº 1, Leon Tolstoy.

* Provérbios 21:1. Texto correto: “Como ribeiros de águas, assim é o coração do rei na mão do Senhor; a tudo quanto quer o inclina.”

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Bottom Ad [Post Page]