BLOG PARA DIVULGAÇÃO DA LITERATURA RUSSA AOS FALANTES DE LÍNGUA PORTUGUESA.

Post Page Advertisement [Top]




A palavra de hoje do Vocabulário Russo, "troika", vem de "tri" (три, três), e pode se referir a qualquer trio, de coisas ou pessoas.

Na literatura russa, porém (em especial dos Séculos XVIII, XIX e começo do Século XX), nós a encontramos, principalmente, no sentido do quadrinho, como um dos muitos veículos que aparecem nos livros, tais como a "telega" (carroça de quatro rodas, muito usada pelos camponeses) ou os trenós, choches e carruagens comuns.

A "troika" é especial, porém, porque tem uma carga cultural especial e, graças à comparação que Gogol fez em "Almas Mortas" — essa da imagem do post — passou a ter sua imagem identificada com a própria Rússia.

A citação completa dá uma melhor ideia do por quê:

"Oh, troika, coche-passarinho, troika! Quem te inventou? Tu não poderias nascer senão de um povo ousado, nesta terra que nunca fez as coisas a meio termo e que se estendeu como uma mancha de azeite por metade do globo, na qual se cansariam os olhos antes de ter contado exatamente o seu número de verstas! O veículo é pouco complicado, dir-se-á; não foi construído com parafusos de ferro, mas montado e afinado ao deus-dará com o machado e a enxó, pelo habilidoso mujique de Yaroslav. O cocheiro não traz botas fortes, à estrangeira; com a sua barba e as suas luvas, senta-se, sabe Deus como; sem embargo, quando se levanta e gesticula, trauteando uma canção, os cavalos atiram-se impetuosamente, as rodas não formam senão uma superfície contínua; a terra treme; o peão, assustado, solta uma exclamação — e a troika foge, devorando o espaço... E já, ao longe, se divisa algo que perfura e que fende o ar.
E tu, Rússia, não voas como uma troika relampejante, que não se poderia alcançar? Passas com estrépito entre uma nuvem de pó, deixando tudo atrás de ti. O espectador detém-se, confundido com este prodígio divino. Não será um raio caído do céu? Que significa esta desenfreada carreira que provoca espanto? Que força desconhecida encobrem estes cavalos, que o mundo jamais viu? Oh corredores, corredores sublimes! Que torvelinhos agitam as vossas crinas! Dir-se-ia que o vosso corpo estremecido é todo orelhas. Ao cair sobre eles a canção familiar, soam em uníssono as suas correias de latão e, aflorando apenas a terra com os seus cascos, não formam mais que uma linda reta fendendo o espaço.
Assim voa a Rússia debaixo da inspiração divina... « Para onde corres? Responde!» . Não há resposta. Os guizos tilintam melodiosamente; revolto, o ar agita-se e converte-se em vento; tudo quanto se encontra sobre a terra é ultrapassado e, com, um olhar de inveja, as restantes nações afastam-se para lhe dar livre passagem."

A comparação agradou, a imagem pegou. Vários escritores se referem a ela posteriormente, como Aleksandr Blok, no artigo "Ironia", que, manifestando-se com pessimismo sobre os resultados do Século XIX, diz que a "troika relampejante" foi ultrapassada pelo trem de ferro.

No nosso Século XXI, a "troika" já foi ultrapassada não só pelo trem, como pelo metrô, o carro, o avião e tantos outros veículos. Ela permanece, porém, viva no imaginário cultural russo, tanto que o cartão do transporte público de Moscou (que serve para o metrô, para o transporte urbano na superfície e para os trens interurbanos) se chama "Troika".

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Bottom Ad [Post Page]